Responsabilização Penal em Atos de Massa: Coletiva ou Individual?

Artigo sobre Direito

Responsabilização Penal Coletiva e Individual em Atos de Massa

Conceito e Fundamentos da Responsabilidade Penal

A responsabilidade penal é um dos pilares do Direito Penal e diz respeito à imputação de uma sanção ao agente que violou a norma penal. No entanto, nem todo fato que se enquadra formalmente em uma norma penal pode ensejar responsabilização; é necessário que estejam presentes elementos como a tipicidade, ilicitude, e culpabilidade.

Em contextos de atos coletivos, como manifestações ou tumultos, a apuração da responsabilidade penal exige atenção à individualização da conduta. A Constituição Federal de 1988 consagra o princípio da responsabilidade penal individual, previsto no artigo 5º, inciso XLV, que afirma que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”, o que, por extensão, veda a responsabilização objetiva ou genérica.

A Atuação Penal em Eventos Coletivos

Quando se está diante de eventos coletivos que envolvem a prática de crimes por diversas pessoas, como danos ao patrimônio, lesões corporais ou atos contra o Estado Democrático de Direito, o sistema penal deve fazer um esforço para atribuir, com clareza, o nexo entre a conduta do agente e o resultado criminoso, a fim de imputar-lhe pessoalmente a responsabilidade.

É papel do Ministério Público, como titular da ação penal pública, buscar provas que identifiquem o comportamento específico de cada acusado. A Polícia Judiciária, neste cenário, exerce função essencial na coleta de elementos probatórios que justifiquem a imputação individual.

Teorias da Autoria e da Participação

Para apurar a conduta em ambientes coletivos, o Direito Penal dispõe de teorias que ajudam a diferenciar entre autores e partícipes. De acordo com a teoria restritiva da autoria, adotada majoritariamente no Brasil, autor é aquele que pratica o núcleo do tipo penal, enquanto partícipes são aqueles que instigam ou auxiliam a prática do delito.

Quando se trata de crimes praticados por multidões, é comum que haja tanto coautoria quanto participação. Contudo, a responsabilização exige prova clara de que o sujeito contribuiu de modo relevante para o fato típico, seja materialmente ou moralmente.

Crimes de Multidão e sua Complexidade Jurídica

O fenômeno dos chamados “crimes de multidão” ou “atos de massa” desafia a dogmática penal tradicional. São situações em que várias pessoas praticam condutas convergentes, às vezes sem liderança definida, criando uma espécie de “vontade coletiva”. Apesar de parecerem um movimento uno, o Direito Penal não reconhece esta unidade como suficiente para responsabilizar todos os envolvidos indistintamente.

Nesses casos, a jurisprudência geralmente se orienta pela ideia de que é necessário demonstrar a adesão consciente e voluntária ao contexto criminoso, sendo insuficiente a mera presença no local ou a proximidade fática do evento para justificar uma condenação.

Crime Cometido por Multidões: Como Responsabilizar?

O processo de responsabilização em tais casos deve observar critérios rigorosos:

1. Identificação do agente por meios tecnológicos (imagens, vídeos, registros digitais);
2. Provas da atuação direta na conduta criminosa ou da colaboração com os autores;
3. Constatação de dolo, ou seja, vontade consciente de participar da prática delituosa;
4. Análise contextual da presença e comportamento de cada acusado.

Sem esses elementos, a persecução penal pode incorrer em imputações genéricas, o que contraria os princípios constitucionais.

Tipificações Comuns em Atos Coletivos

Dentre os crimes frequentemente imputados em contextos de aglomerações com prática de infrações penais, destacam-se:
– Dano ao patrimônio público (art. 163, parágrafo único, inciso III, do CP);
– Incitação ao crime (art. 286 do CP);
– Associação criminosa (art. 288 do CP);
– Atentado contra o Estado Democrático de Direito, conforme a Lei n. 14.197/2021;
– Desobediência a ordens legais (art. 330 do CP) e resistência (art. 329 do CP).

A correta tipificação exige análise do comportamento concreto de cada agente, sob pena de responsabilizações infundadas.

Processo Penal e Garantias Constitucionais

Nos atos processuais seguintes à acusação, o sistema de justiça criminal deve garantir o contraditório e a ampla defesa. Cada processado deve ter acesso à integralidade das provas e possibilidade de refutá-las. A atuação da Defensoria Pública é essencial quando os réus não dispõem de recursos próprios para constituir advogado.

A jurisprudência brasileira tem reforçado a importância da motivação detalhada das decisões judiciais que afastam a tese de ausência de participação, diante das garantias fundamentais do devido processo legal, previstas no artigo 5º, inciso LIV, da Constituição.

Responsabilização Coletiva é Constitucional?

A responsabilização penal coletiva é vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Ainda que haja indícios de organização coletiva em torno de certos crimes, cada membro deve ser responsabilizado na exata medida da sua participação, o que implica a necessidade de delimitação individual da ação dolosa.

O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça já decidiram reiteradas vezes que a individualização da conduta é requisito essencial para a formação da culpa. Acusações baseadas exclusivamente em presença em local de crime, sem a devida identificação de ato ilícito praticado, são consideradas ilegítimas.

Função Preventiva e Simbólica do Direito Penal

Mesmo diante das exigências probatórias rigorosas, o Direito Penal contemporâneo também atua com relevante função preventiva e simbólica. A persecução de crimes praticados por multidões visa não apenas punir, mas também afirmar a eficácia da ordem jurídica e desestimular a prática de novos delitos em massa.

Contudo, essa função simbólica não pode se sobrepor às garantias individuais. A seletividade punitiva ou a adoção de práticas inquisitivas devem ser rigidamente rechaçadas, ainda que sob forte clamor social por sanções exemplares.

Considerações sobre o Princípio da Proporcionalidade

A aplicação do Direito Penal em atos coletivos também envolve o exame de proporcionalidade entre a gravidade da conduta e a reprimenda estatal. O juiz, ao sentenciar, deve sopesar os meios utilizados pelo agente, o contexto da ação e os danos efetivamente causados.

A pena deve cumprir uma função de reprovação e prevenção, mas sem se tornar instrumento de vingança estatal. Particular atenção deve ser dada a indivíduos com menor participação ou eventualmente cooptados em meio ao tumulto, cuja culpabilidade pode ser reduzida.

Insights Finais

– A responsabilização penal por atos públicos e coletivos exige a plena individualização da conduta.
– A simples presença em ambiente de manifestação não é, por si só, justificativa para ação penal.
– A tipificação correta e o respeito às garantias processuais são essenciais para evitar injustiças.
– Autoridades devem investir em tecnologia e métodos investigativos para assegurar imputações precisas.
– O Direito Penal deve resguardar direitos fundamentais mesmo em contextos de grande comoção social.

Perguntas e Respostas Frequentes

1. É possível o Estado responsabilizar penalmente todos que estavam presentes em um evento com prática de crimes?

Não. A responsabilização penal demanda individualização da conduta. A mera presença em local onde houve crime não é suficiente para imputação penal.

2. Qual a diferença entre autoria e participação em um crime coletivo?

Autor é quem pratica diretamente o núcleo do tipo penal. Partícipe é quem instiga ou auxilia, sem executar a ação principal. Ambos são penalmente responsáveis, desde que haja prova de sua contribuição voluntária e consciente.

3. O que acontece se uma denúncia penal for genérica e não individualizar a conduta dos acusados?

A jurisprudência considera tal denúncia inepta. Ela pode ser rejeitada, e, se aceita, pode levar à absolvição sumária, pois fere o princípio do devido processo legal.

4. Como as autoridades identificam corretamente a participação de indivíduos em atos coletivos criminosos?

Por meio de imagens, vídeos, rastros digitais, testemunhas e demais provas que vinculam claramente o agente à conduta criminosa.

5. Existe algum tipo de crime que permita uma responsabilidade penal mais ampla em atos coletivos?

Alguns tipos penais, como associação criminosa, admitem a responsabilização por participação em estrutura organizada. No entanto, ainda assim, é necessário provar vínculo consciente e voluntário do agente com os objetivos criminosos do grupo.

Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.

Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14197.htm

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Este artigo foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de uma fonte e teve a curadoria de Fábio Vieira Figueiredo. Advogado e executivo com 20 anos de experiência em Direito, Educação e Negócios. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP, possui especializações em gestão de projetos, marketing, contratos e empreendedorismo. CEO da IURE DIGITAL, cofundador da Escola de Direito da Galícia Educação e ocupou cargos estratégicos como Presidente do Conselho de Administração da Galícia e Conselheiro na Legale Educacional S.A.. Atuou em grandes organizações como Damásio Educacional S.A., Saraiva, Rede Luiz Flávio Gomes, Cogna e Ânima Educação S.A., onde foi cofundador e CEO da EBRADI, Diretor Executivo da HSM University e Diretor de Crescimento das escolas digitais e pós-graduação. Professor universitário e autor de mais de 100 obras jurídicas, é referência em Direito, Gestão e Empreendedorismo, conectando expertise jurídica à visão estratégica para liderar negócios inovadores e sustentáveis.

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