A importância das garantias constitucionais no acesso ao Poder Judiciário e a filtragem de recursos no Direito Processual
Introdução
O acesso à Justiça é um dos pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito. A Constituição Federal de 1988 estabelece, entre seus valores mais elevados, que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV). No entanto, o crescente volume de processos e recursos impõe desafios administrativos e jurídicos ao funcionamento do Judiciário brasileiro. Para lidar com essa situação, foram implementados diversos mecanismos de filtragem recursal, especialmente no âmbito dos tribunais superiores. Este artigo se debruça sobre o tema das garantias constitucionais e as limitações impostas aos recursos, especialmente os recursos extraordinários e de revista, à luz da sistemática atual do Direito Processual.
O direito fundamental ao acesso à justiça
O direito de ação, garantido pelo art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, assegura aos cidadãos a possibilidade de submeter ao Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito. Trata-se de norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata. Esse direito está diretamente relacionado aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, todos elencados na mesma norma constitucional (incisos LIV e LV).
Não obstante, é preciso distinguir entre o direito de ação e o direito de recorrer a instâncias superiores. A Constituição assegura o direito de petição inicial e o prosseguimento do processo com base nas garantias processuais, mas a interposição de recursos extraordinários obedece a critérios específicos de admissibilidade, muitas vezes restritivos, com o objetivo de preservar a função paradigmática dessas instâncias.
Filtragem recursal: por que os recursos são limitados?
O papel das instâncias superiores
O Supremo Tribunal Federal (STF), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Superior do Trabalho (TST), entre outros tribunais superiores, não funcionam como instâncias revisórias de fatos e provas. Ao contrário, sua função precípua é uniformizar a jurisprudência, garantir a observância da Constituição e promover segurança jurídica nas decisões judiciais.
Nesse contexto, admitir todos os recursos indiscriminadamente comprometeria a própria razão de existir dessas Cortes. A atividade fim dessas casas judiciais é extraordinária: trata-se de cortes de precedentes e não de reapreciação de casos concretos.
Mecanismos de filtragem processual
Dentre os instrumentos de limitação e controle do acesso aos tribunais superiores, destacam-se:
– Repercussão geral (art. 102, § 3º, CF) no Recurso Extraordinário;
– Requisitos formais e substanciais nos Recursos Especiais ao STJ (art. 105, III, CF);
– Requisitos rigorosos de demonstração de divergência e transcendência nos Recursos de Revista ao TST (arts. 896 e 896-A da CLT);
– Súmulas, jurisprudências consolidadas e decisões com repercussão vinculante impedem rediscussões infrutíferas, conforme o disposto nos arts. 927 e 1.030 do Código de Processo Civil.
Esses filtros não visam restringir direitos subjetivos, mas sim organizar o sistema judicial para que continue eficaz e acessível a todos, dentro de um modelo que promova decisões com qualidade e estabilidade.
O princípio da proteção judicial efetiva e suas implicações
O que se espera do Judiciário é que ele ofereça resposta jurisdicional justa, tempestiva e conforme aos ditames constitucionais. Essa expectativa está relacionada à proteção judicial efetiva, princípio derivado do devido processo legal material.
A filtragem de recursos, quando bem aplicada, contribui para a racionalização do Judiciário e a proteção do sistema como um todo. Contudo, eventuais excessos na rigidez dos critérios de admissibilidade podem configurar ofensa ao princípio da inafastabilidade da jurisdição, caso resultem em negativa de prestação jurisdicional.
É fundamental, portanto, que os órgãos julgadores justifiquem criteriosamente a negativa de seguimento de recursos, evitando decisões monocráticas genéricas, sem enfrentar efetivamente os fundamentos das teses recursais.
O princípio da segurança jurídica e o papel da jurisprudência consolidada
A Constituição de 1988 inaugurou no Brasil um sistema jurídico em que a jurisprudência ganha força vinculante em determinadas situações, especialmente diante da aplicação do sistema de precedentes judiciais.
Súmulas vinculantes do STF, decisões em repercussão geral e recursos repetitivos formam uma base de previsibilidade essencial para assegurar a segurança jurídica e o princípio da igualdade. Com isso, evita-se que casos idênticos sejam julgados de maneira distinta por diferentes tribunais ou relatores.
Nesse sentido, os filtros recursais também ajudam a consolidar a jurisprudência, evitando a sobrecarga do Judiciário com recursos que, à luz da orientação consolidada, não teriam êxito.
A transcendência como critério de admissibilidade recursal na Justiça do Trabalho
A CLT, em seu art. 896-A, introduzido pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), prevê que o Tribunal Superior do Trabalho só admitirá Recurso de Revista quando a causa apresentar transcendência, definida como a relevância dos temas caracterizados por um ou mais dos seguintes aspectos:
– Relevância econômica da causa;
– Repercussão social do caso;
– Divergência jurisprudencial relevante;
– Violação de normas constitucionais ou legais.
Esse critério objetiva selecionar apenas casos com interesse coletivo, estrutural ou de orientação jurisprudencial, promovendo um Judiciário mais funcional sem renunciar às garantias processuais dos litigantes.
O desafio está em definir objetivamente esses critérios e garantir que o recurso não seja rejeitado por falta de transcendência de forma arbitrária ou padronizada. A insuficiente fundamentação na análise da transcendência pode comprometer a proteção jurídica efetiva.
O devido processo legal e os limites ao poder discricionário na admissibilidade de recursos
A admissibilidade de recursos excepcionais, embora submetida a regras mais estritas, deve sempre respeitar o devido processo legal e a vedação de decisões surpresas. O Poder Judiciário, ao exercer sua função filtrante, não pode incorrer em decisões que prejudiquem a parte sem o devido enfrentamento das teses e argumentos defensivos.
É imprescindível que a fundamentação das decisões observe os ditames da razoabilidade, proporcionalidade e transparência, com abertura suficiente que permita o manejo dos recursos adequados para o questionamento daquela negativa (como embargos de declaração ou agravo interno), conforme prevê o Código de Processo Civil.
- A ausência de motivação fere a ideia de Estado Democrático de Direito;
- Viola o contraditório e a ampla defesa;
- Cria ambientes de instabilidade jurisprudencial e insegurança jurídica;
- Limita de forma indevida a função revisora das instâncias constitucionais.
Direitos fundamentais versus eficiência judicial: é possível harmonizar?
O grande desafio da atualidade é harmonizar dois imperativos legítimos: de um lado, garantir a plenitude de direitos fundamentais processuais; de outro, assegurar a eficiência do sistema judiciário e combater a litigância excessiva, desproporcional ou abusiva.
Para isso, a aplicação de filtros recursais deve se basear em:
– Critérios técnico-jurídicos transparentes;
– Observância do contraditório;
– Fundamentação efetiva das decisões que denegam seguimento de recurso;
– Garantia do reexame por meio de recursos adequados (agravos, embargos etc.).
A cultura do precedente vinculante e da responsabilidade na interposição recursal também contribui para essa harmonização. É papel dos advogados, juízes e membros do Ministério Público zelar pela lisura e coerência argumentativa, evitando recursos protelatórios e prestigiando a integridade do processo.
Considerações finais
O controle de admissibilidade de recursos aos tribunais superiores é uma ferramenta indispensável para o bom funcionamento do Judiciário. No entanto, deve ser sempre interpretado à luz da Constituição Federal e das garantias fundamentais do processo. A proteção judicial efetiva, o devido processo legal e o amplo acesso à justiça não podem ser relativizados em nome da eficiência sem que sejam observadas criteriosa proporcionalidade e motivação adequada nas decisões.
É dever da comunidade jurídica permanecer vigilante contra medidas que, sob a aparência de racionalização, acabem por restringir indevidamente o acesso ao Judiciário, comprometendo as entregas fundamentais do Estado Democrático de Direito.
Insights
– Os filtros recursais não podem ser aplicados de forma arbitrária ou genérica, sob pena de violação de direitos fundamentais.
– O fortalecimento da cultura dos precedentes é essencial para racionalizar o sistema recursal sem sacrificar o acesso à justiça.
– A fundamentação das decisões deve ser individualizada, especialmente quando se trata de denegação de recursos.
– A eficiência judiciária não pode ser priorizada em detrimento da legalidade constitucional e da efetividade do processo.
– É necessário promover a constante capacitação técnica de operadores do Direito para lidar com os novos parâmetros e filtros recursais.
Perguntas e respostas
1. O que é o princípio da inafastabilidade da jurisdição?
Aprofunde seu conhecimento sobre o assunto na Wikipedia.
Acesse a lei relacionada em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#art5
Busca uma formação contínua com grandes nomes do Direito com cursos de certificação e pós-graduações voltadas à prática? Conheça a Escola de Direito da Galícia Educação.
Este artigo foi escrito utilizando inteligência artificial a partir de uma fonte e teve a curadoria de Fábio Vieira Figueiredo. Advogado e executivo com 20 anos de experiência em Direito, Educação e Negócios. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP, possui especializações em gestão de projetos, marketing, contratos e empreendedorismo. CEO da IURE DIGITAL, cofundador da Escola de Direito da Galícia Educação e ocupou cargos estratégicos como Presidente do Conselho de Administração da Galícia e Conselheiro na Legale Educacional S.A.. Atuou em grandes organizações como Damásio Educacional S.A., Saraiva, Rede Luiz Flávio Gomes, Cogna e Ânima Educação S.A., onde foi cofundador e CEO da EBRADI, Diretor Executivo da HSM University e Diretor de Crescimento das escolas digitais e pós-graduação. Professor universitário e autor de mais de 100 obras jurídicas, é referência em Direito, Gestão e Empreendedorismo, conectando expertise jurídica à visão estratégica para liderar negócios inovadores e sustentáveis.
Que tal participar de um grupo de discussões sobre empreendedorismo na Advocacia? Junte-se a nós no WhatsApp em Advocacia Empreendedora.
Assine a Newsletter no LinkedIn Empreendedorismo e Advocacia.